O início da relação cinema-psiquiatria

agosto 28, 2008

 

O primeiro filme a fazer uso da figura de um psiquiatra foi Gabinete do Dr Caligari, filme de 1920, do diretor Robert Wiene, na Alemanha.

Este é considerado o filme manifesto do expressionismo e por isso, por muito tempo a estética expressionista foi chamado caligarismo.

O roteiro foi escrito com a intenção de denunciar o poder das instituições, no filme representadas pelo psiquiatra Caligari, mas foi feita uma alteração e o resultado é diferente daquele do roteiro.

A hipnose e sonambulismo são bastante utilizados no filme e isto já era o reflexo da obra de Freud no cinema.

O Gabinete de Dr. Caligari e outros filmes expressionistas como Nosferatu são os precursores dos filmes de terror, principalmente os filmes B americanos.

Na época em que o filme foi filmado, a Alemanha vivia num estado de espírito negativo e com uma série de inquietações, resultados da destruição da Primeira Grande Guerra Mundial.

O estilo do filme reflete esses sentimentos e frustrações na sua própria estética. O cenário é opressor, com linhas distorcidas e não harmoniosas. Luzes e sombras também são muito usadas para transmitir os sentimentos dos personagens.

O fato da relação psiquiatra e cinema ter se iniciado com um filme de terror é algo muito revelador e até hoje esta áurea de mistério ronda o psiquiatra e pacientes psiquiátricos nos filmes. Por outro lado, existem filmes que exageram ao criar uma figura do psiquiatra como ser humano ideal, sem defeitos. Esse maniqueísmo segue a psiquiatria no cinema até hoje , com algumas exceções.

 

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Descubra qual filme combina com sua personalidade!

agosto 27, 2008

 

Só pra divertir um pouco…..neste site voce faz um teste de personalidade baseado nos tipos de Jung -Myers-Brigs e depois descobre qual filme reflete mais sua personalidade……é divertido.

O problema é que o teste está em inglês, mas as perguntas são simples, com um inglês básico dá pra responder. E se for necessário você pode utilizar as ferramentas de tradução do Google pra ajudar.

Vale a pena!

http://similarminds.com/movie.html


Animações e Conflitos Familiares

agosto 22, 2008

Animações e conflitos familiares

Nemo 11

Em diversas animações podemos observar conflitos familiares. Só me dei conta disso em “Procurando Nemo” (2003) , quando assisti “Jogo de Cena”(2007), documentário que mostra entrevistas com mulheres comuns falando sobre suas vidas. Uma das mulheres chora ao falar sobre Nemo e explica que se lembra de sua filha e de sua relação conflituosa com ela quando fala sobre o filme. O pai de Nemo era superprotetor e não permitia que o filho se aventurasse e aprendesse com os próprios erros.

Assim, fica claro o quanto um desenho ingênuo e aparentemente sem profundidade pode nos tocar, principalmente se nos identificamos com os personagens e situações vividas por eles. Adultos ou crianças estão sujeitos a esse processo, que ocorre de forma inconsciente.

espanta Outra animação que traz conflitos familiares é o “Espanta Tubarões” (2004). Neste filme, há uma família de tubarões que se assemelha aos Corleone do “Poderoso Chefão” (1972), uma família de mafiosos e durões.

Entre eles, há um tubarão-filho que não se adapta aos padrões da família, é delicado e afeminado. Além disso, ele é um tubarão vegetariano. A família espera dele uma atitude forte e masculina, mas ele não corresponde às expectativas, embora faça varias tentativas. Como resultado, a família tem que aprender a aceitá-lo do jeito que ele é, com suas próprias características. Há, então, a aceitação das diferenças, mesmo dentro de uma família rígida e com um padrão definido de comportamento.

Esse são apenas alguns exemplos de animações e conflitos familiares, mas existem outros e em breve eu escreverei sobre eles.


O Cheiro do Ralo – Cinema e Psiquiatria

agosto 18, 2008

O Cheiro do Ralo, filme de Heitor Dhalia, baseado no livro de Lourenço Mutarelli, é um filme que mostra a vida do personagem Lourenço, dono de uma loja de antiguidades.

O personagem principal tem características de personalidade muito bem definidas, que ficam claras em todos os seus relacionamentos e atitudes. Sua personalidade também se revela pelo modo como anda, veste, se move e até pela própria profissão.

O diretor se utilizou de recursos de cenário e câmera para mostrar um mundo que expressasse as características psicológicas da personagem. A câmera está sempre parada e os cenários são muros e portões por onde Lourenço anda se maneira uniforme diariamente.

Lourenço é um homem de rotinas rígidas, come todo dia no mesmo local, na mesma lanchonete, em horários fixos. No seu trabalho, exerce o seu sadismo com as pessoas que vão levar os objetos mais variados para vender. Ele se sente incomodado com o cheiro que sai do ralo de seu banheiro no trabalho. Sempre explica às pessoas que aquele cheiro não é dele, mas que vem do ralo.

Com o passar do filme, ele passa a gostar do cheiro do ralo, conforme sua personalidade fica mais exposta e com menos disfarces.

Seus relacionamentos com as pessoas são superficiais. Ele é frio e distante. Tem uma noiva com quem rompe já no início do filme e diz que nunca gostou dela, não demonstra nenhuma preocupação ou sentimento por ela. Ela se revela uma mulher histérica e dramática, que se preocupa mais com o fato dos convites já estarem na gráfica do que com o relacionamento. Lourenço afirma que nunca gostou de ninguém, nem da mãe. A única pessoa a quem dedica afeto é o pai,ou idéia do pai,já que nunca o conheceu, pois abandonou sua  mãe ainda grávida.

Durante o filme, desenvolve uma grande paixão, a nádega da garçonete da lanchonete onde come todos os dias. Seu interesse é só nisso e não na pessoa dela, já que ele nem mesmo se lembra do seu rosto, fato que fica evidente quando começa a conversar com outra garçonete achando que era aquela que conhecia. Lourenço gosta de controlar as situações. Na sua profissão pode fazer isso colocado o preço que achar adequado nos objetos. Comprar é uma forma de exercer domínio, por isso não quer sair com a garçonete, mas quer pagar para ver seu corpo, para ter o controle sobre ela e não ter que se envolver afetivamente.

Lourenço tem uma personalidade com fortes traços obsessivos, que na teoria psicanalítica se relaciona a uma fixação na fase anal de desenvolvimento psicossexual, segundo a teoria de Freud. Nesta fase, a criança aprende a controlar as fezes e com isso surge o prazer pelo controle. O fato da nádega ser o objeto de escolha do personagem também remete simbolicamente à fixação anal.

Tem uma relação forte com objetos, partes, o que fica claro através da relação que cria com olho, que ele inventa que é de seu pai que morreu na guerra. Lourenço passa a reconstruir o pai com pedaços, como uma perna biônica que compra e com o olho.

O comportamento de Lourenço vai se tornando mais baixo e sujo no decorrer do filme,  então, ele desiste de tapar o ralo e abre um buraco no chão do banheiro. Envolve-se em relações sexuais que envolvem dinheiro, agride um cliente. Sente que o ralo dá poder a ele e que o poder é afrodisíaco. Através do ralo se conecta com seu eu- verdadeiro e com seu pai.

A última frase do filme é bem ilustrativa do caráter anal de Lourenço: ”e então ninguém entra e ninguém sai”. Em seguida, um primeiro plano na nádega da garçonete, reforça esse conteúdo.

 

Site oficial: http://www.ocheirodoralo.com.br/

 

Sessão MovieMobz do Cheiro do Ralo

Data: 21-08(quinta) às 22hs

Local:Cine Bombril

Ingresso: 6 reais

DVD O Cheiro do Ralo no Submarino


“Possuídos”

agosto 13, 2008

Os Possuídos (Bugs, 2007)

Filme realizado pelo mesmo diretor do “exorcista”, William Friedkin desta vez adota o terror produzido pela natureza humana e não por algo sobrenatural,embora um seja tão incontrolável quanto  o outro

A maior parte do filme se passa no mesmo cenário, embora este sofra drásticas transformações conforme o avançar do filme.Os atores se transformam psíquica e fisicamente, ocorre uma degradação deles, que culmina no ato final, a total destruição.

O filme conta a história de uma garçonete solitária, que mora num motel à beira da estrada e é marcada por uma grande perda em sua vida, o desaparecimento do filho de seis anos no mercado. Ela vive alcoolizada e fragilizada.

Esta mulher conhece um homem, que pelo modo diferente como a trata, se destaca dos outros. Desde o início, ele demonstra uma maneira estranha de agir, sem ter muito tato social.

Ela se vê muito envolvida por aquela figura que a respeita e trata bem e rapidamente se apega a ele de forma intensa.

Logo, ele começa a demonstrar excessiva preocupação com insetos na cama e no corpo. Inicialmente, ela se opõe, mas ao perceber que aquilo o deixa irritado, passa a aceitar também aquela infestação como real.

A partir daí, o isolamento se intensifica e s dois passam o tempo todo fechados no quarto de hotel procurando por insetos. Os corpos começam a ser cortados em busca destes insetos, com uma destruição progressiva, principalmente do corpo dele.

O apartamento passa a ser todo coberto de alumínio e com objetos pendurados, tudo com o objetivo de combater esses insetos.

Além dos insetos, o delírio também tinha um conteúdo persecutório: o Exército estava atrás dele, que era um desertor, pois fora utilizado como cobaia em uma experiência na qual os ovos de insetos foram implantados nos seu corpo.

Na sequência final do filme, há uma revelação total, incluindo todos os personagens e fatos do filme.

Eles seguem neste ciclo doentio até que atingem o ápice da situação com a única solução possível, o total aniquilamento

O cenário limitado espacialmente ajuda a criar um clima angustiante e a atuação dos autores consegue gerar uma grande tensão.

O psicótico feito pelo ator Shanon consegue convencer não apenas quando já está evidente seu delírio, mas mesmo no inicio, com o comportamento introvertido, isolado e poucas habilidades sociais, além da própria postura e gestos.

O quadro psiquiátrico que se observa neste filme chama-se “folie à deux”, que é um transtorno delirante compartilhado por geralmente duas pessoas com determinadas características.

O indivíduo doente, que tem o delírio primário, tem uma relação de superioridade com o outro, que em geral é mais frágil e dependente do primeiro. Este segundo não é doente, mas passa a compartilhar do delírio, devido a sua fragilidade psicológica.

O isolamento social também é um fator muito importante para o desenvolvimento dessa relação.